terça-feira, 18 de abril de 2006

Memória do habilidoso

Memória do habilidoso



Ela, parada bem aqui; nessa vez, eu também estava aqui – ao menos nessa.

Era linda, muito linda, e assim estava. Mas nessa vez, não era beleza que se abstraísse do contexto: parada, bem aqui, se pintando, se recalcando toda. Nem pareceria ter estado nervosa, não fossem os olhos, mais vermelhos que o batom. E a dificuldade em delinear os olhos, de trêmulas que tinha as mãos. Nem parecia ela.

Zangou-se, zangou sim, embora procurasse não demonstrar. Foi por perguntar-me se não a amava mais e ouvir, em resposta, que não era o caso, que nunca eu a amara. Não entendia a razão e a clareza da resposta...

Bem, sempre fui inseguro, mas também muito reservado; vejo sombras nos espaços dos quais me esquivo. Sou habilidoso em me esgueirar por entre os edifícios da cidade. Foi assim nessa vez.

Ela, linda, muito linda. E ingênua, como só os que bêbados pela própria beleza podem ser. Ficou lá, se rebocando, se recalcando toda. É só o de que me lembro.

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