Era foda! Ele sempre vinha chegando com uma cara-de-calma, parecia que tinha fumado um tão logo se achou acordado. Mas nada!, mas nada que ele nem fumava na verdade. Era simplesmente calmo mesmo. E era bom isso, acalmava quem ficasse perto também. O Caio, no caso, que andava com stress e testosterona batendo na testa, quando encontrava com ele pela rua, sentia uma baforada fresca de lavanda contra a cara e ficava contente no instante. Ontem tinha até se esquecido de encrenca com o novo encarregado, briguinha que extinguiu-lhe a paciência e deixou as bolas doendo de ódio por não ter respondido nada. Bem assim: saiu da sala do cara, saiu quase correndo e muito bufando, cruzou o pátio já acendendo um cigarro, atravessou a rua em direção à padoca e lá estava, lá estava ele, levando o cachorro pro rolezinho matinal. Encontro assim, por acaso. Na hora em que o viu, o estômago do Caio se contorceu e depois fez cócegas por dentro, nas costas. E ele se chegou - era foda!!! Chegou juntinho, bom-dia sorrido e muito sorrido. Veio o bafo violeta de lavanda e alfazema... E passou, a tensão passou... Que foda!

Ele verdejava olhadas e suavizava os traços do rosto do Caio, que o via, todo embasbacado, enquanto o cachorro cagava com aquela vontade que deixa um cheiro de dar ânsia... Cachorro do caralho! Tinha que estragar aquele segundo de poesia? Mas nem estragou tanto, porque a poesia com ele era muito prosaica: ele riu um pouco, se abaixou (deixando ver um tantinho de ombro pela caída da camiseta de gola cortada), embrulhou a mão num saquinho de mercado e catou a merda... Ainda ria: “Adivinha quem é dono de quem aqui, né?!” E os lábios se esticando ainda mais... O cara tinha vários estágios de sorriso, que se desenrolavam, abrindo feito asa de borboleta: foda, foda, foda!!!
Mas passou... Passou a raiva, passou o cara, passou o dia... Não passou foi a vontade de ver os olhos dele de novo, não passou nadinha. E com ela, vinha vontade de beijar boca, de trançar pernas, de beijar aquele corpinho magrinho... E a velha e boa questão: será que ele era desse babado? Tinha jeito, mas será que era? Difícil saber, terrível perguntar... Por que tudo tinha que ser tão difícil? Mas que foda!!! Não!, foda não, porque foda era bom... Foda era ele, e como era!... Consolo bom pra um dia chatinho de trabalho era saber que, caso ele saísse de casa numa hora em que o Caio estivesse sem fazer nada, daria pra ver pela janela e dar uma corridinha pra interceptá-lo no caminho e interiorizar aquela alma de lavanda que fluía de todo seu ser... E que rendia boas punhetas nessas dessas madrugadas vazias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Vem com tudo!