
Eu vi um belo drama no cinema na noite passada. Good é o título original, sendo a tradução “um homem bom”. Havia muito tempo que eu não tinha paciência para dramas. Mas esse é sobre questões de nazismo, um assunto que muito me interessou – é o gênero “filme de segunda guerra” que sempre me agradou. O filme é altamente recomendável.
Temos aí um amor de rapaz, professor universitário dos melhores, filho dedicado, marido paciente, pai zeloso... Mas acontece uma sinuca de bico em sua vida e o cara se torna nazista. Ele não sabe e não acredita nos horrores desse regime até que se depara com um campo de concentração. Sério mesmo: o cara é inocente, totalmente inocente.
- - -
Lembrei então da Insustentável Leveza do Ser, em que o médico Thomas se torna lavador de janelas em virtude de um artigo que escreve sobre os comunistas que tomaram a Tchecoslováquia. Ele fazia uma analogia muito inteligente entre os comunistas russos (que em sua luta por um sistema igualitário, nunca souberam as atrocidades do partido - e não falamos apenas de mortes, mas de supressões identitárias) e o Édipo. Esse rei só veio a saber que matara o pai e desposara a mãe quando tudo já havia sido feito. Foi inocente todo o tempo e, mesmo assim, se cegou e se condenou a vagar por aí, sem reino. O Thomas de Kundera sugeriu em seu artigo que os comunistas deveriam, a exemplo de Édipo, “furar os próprios olhos”, o que lhe rendeu um inferno em vida, pois as aspas que aqui se lê não foram lidas pelos do partido.
Eu acho que o Handel, personagem principal de Good, belamente interpretado por Viggo Mortensen, acho que ele também sentiu que precisava se cegar ao ver o campo de concentração...
- - -
Lembrei-me também que tive em minha vida alguém que me foi muito caro e que achava que em política, os fins justificam os meios. Essa inocência de Handel, essa que foi duramente condenada por Thomas, ela não existia no alguém: tratava-se de uma mente muito lúcida (lembremos que instrução e inteligência não tem necessariamente a ver com lucidez). Esse tipo de gente nunca corre o risco de esvaziar os conceitos de sentido; pelo contrário, se esses não se aplicam à realidade, são ressignificados, relativizados e coisa e tal, o que é admiravelmente engenhoso e pragmático quando se lida com política.
Pensando nesse filme, nesse livro e em algum outro blábláblá, senti-me subitamente segura por me haver apartado definitivamente desse meu tão caro alguém.
É lamentável a simplificação de que lancei mão nessa postagem, eu sei, mas já passa da meia noite, motivo pelo qual me sinto confortável em me entregar à preguiça.
Temos aí um amor de rapaz, professor universitário dos melhores, filho dedicado, marido paciente, pai zeloso... Mas acontece uma sinuca de bico em sua vida e o cara se torna nazista. Ele não sabe e não acredita nos horrores desse regime até que se depara com um campo de concentração. Sério mesmo: o cara é inocente, totalmente inocente.
- - -
Lembrei então da Insustentável Leveza do Ser, em que o médico Thomas se torna lavador de janelas em virtude de um artigo que escreve sobre os comunistas que tomaram a Tchecoslováquia. Ele fazia uma analogia muito inteligente entre os comunistas russos (que em sua luta por um sistema igualitário, nunca souberam as atrocidades do partido - e não falamos apenas de mortes, mas de supressões identitárias) e o Édipo. Esse rei só veio a saber que matara o pai e desposara a mãe quando tudo já havia sido feito. Foi inocente todo o tempo e, mesmo assim, se cegou e se condenou a vagar por aí, sem reino. O Thomas de Kundera sugeriu em seu artigo que os comunistas deveriam, a exemplo de Édipo, “furar os próprios olhos”, o que lhe rendeu um inferno em vida, pois as aspas que aqui se lê não foram lidas pelos do partido.
Eu acho que o Handel, personagem principal de Good, belamente interpretado por Viggo Mortensen, acho que ele também sentiu que precisava se cegar ao ver o campo de concentração...
- - -
Lembrei-me também que tive em minha vida alguém que me foi muito caro e que achava que em política, os fins justificam os meios. Essa inocência de Handel, essa que foi duramente condenada por Thomas, ela não existia no alguém: tratava-se de uma mente muito lúcida (lembremos que instrução e inteligência não tem necessariamente a ver com lucidez). Esse tipo de gente nunca corre o risco de esvaziar os conceitos de sentido; pelo contrário, se esses não se aplicam à realidade, são ressignificados, relativizados e coisa e tal, o que é admiravelmente engenhoso e pragmático quando se lida com política.
Pensando nesse filme, nesse livro e em algum outro blábláblá, senti-me subitamente segura por me haver apartado definitivamente desse meu tão caro alguém.
É lamentável a simplificação de que lancei mão nessa postagem, eu sei, mas já passa da meia noite, motivo pelo qual me sinto confortável em me entregar à preguiça.
Não sabia que o filme já tinha sido lançado, o trailer me deixou muito interessado em ver-lo.
ResponderExcluirCoincidência, ou não, assisti "A Insustentável Leveza do Ser" neste final de semana. O livro é um dos meus preferidos, apesar de ter lido em 1900 e bolinha... rsrs
ResponderExcluirVou assistir o filme, mas o trailer já me fez lembrar de várias conversas que tive com alemães qdo visitei a Deutschland. Vários deles me falaram sobre o sentimento comum de arrependimento, misturado com ojeriza e vergonha, por terem embarcado numa onda ideológica tão perversa quanto aquela. Pelo que vi no trailer, acho que é mais ou menos o que aconteceu com o médico. Grande parte do povo alemão, apesar de letrado, foi literalmente seduzido por uma propaganda/retórica bastante eficiente. Aliada à conjuntura política/econômica da época...deu no que deu. Quando se deram conta da "barca furada" que estava legitimando/sustentando, o horror já estava instalado.
Apesar de tudo isso, nota-se hoje na Alemanha uma grande preocupação em manter na memória de todos esse erro colossal. Quase toda cidade tem um memorial judaico, etc.etc.
Beijos!
Bob: já foi sim, lindo, e é um grande filme! E o Viggo, um cara bem ló-profáil, se mostra um ator e tanto! Vale muito a pena!
ResponderExcluirJohnny: ouvi sbre essa mágoa histórica alemã num curso de história que eu fiz. E ouvi tb que realmente, há um esforço pra não se apagar nada da memória historia... O que é muto bom, na minha opinião e é por isso que eu queria muito que os nossos ex ditadores se fodessem e se retratasse publicamente. Pragmaticamente não adianta muito (as vítimas do regime não vão melhorar), mas a memória histórica deve resistir.
Quanto à razão dos alemães pra cair no chaveco do psicótico mor alemão, a 1ª Guerra acabou com a auto-estima deles, né? Acho que entre outros fatores (houve vários) esse foi um dos que mais facilitou pra que as mentes iluminadas tomassem esse ópio político... Enfim...
Amo os livros do Kundera. O filme é muito bom tb, né? Tem o Day-Lewis, que éum puta ator tb e a bela Binoche. A Insustentável leveza eu já li umas 5 ou 6 vezes. ´um dos meus romances preferidos.
Gosto muito do Juliette Binoche, pelo talento e pela beleza. Mas no "Insuportável", particularmente, acho que a Lena Olin dá de 10 nela (em beleza). Ela está maravilhosa.
ResponderExcluirO que já não acontece em "Chocolate", onde a Juliette está uma deusa e a Lena, uma bistronka! rsrsrsrs
Beijos!
Johnny: Ah, na Insustentável, a Juliette tá fazendo a menininha e a Lena, a mulher toda-poderosa. No Chocolate, a Juliette é a toda-poderosa, misteriosa e a Lena é a fubanga mesmo, né? Hehehe. Caracteriza~ções à parte, eu pegava as duas.
ResponderExcluirA propósito, e a Juliette no Morro dos Ventos Uivantes? Vc viu? tá matadora!