Parece que depois do 30 comecei a sentir minha poesia um pouco vazia. Às vezes, quando estou reconfortando algum amigo muito desarranjado pelas coisas da vida, me vejo buscando palavras que não me façam parecer um livro de auto-ajuda ambulante.
Aconteceu isso quando estive com a Helena. Ela falava de suas contas, seus filhos, seu amante, seu tumor; eu falava sobre alguma saída humana que lhe remediasse o incômodo e me sentia um tanto hipócrita. Mas que fazer? Não convinha falar da fugacidade e do destempero da vida, não é? (Oh-meu-deus!, permita-me a graça da futilidade porque ser muito profundo, a mim, dói!)
Na primeira vez em que desembarquei no Galeão, ele me pareceu familiar, tanto quanto todos os outros aeroportos que já conheci. É curioso, as cidades são sempre uma surpresa; os aeroportos, todos iguais, por mais diferenças que guardem entre si. A impressão que me pega é que os aeroportos ficam mais na alma que as cidades das quais são portões.
Outra questão de familiaridade são os aviões. Sempre que entro em um, é algum detalhe mínimo que me faz sentir que dormi em vôo todas as noites da minha vida. Estar entre um lugar e outro e sentir que se está entre um lugar e outro: qual a diferença prática dessas duas coisas? O desgaste talvez? A Helena vive em vôo a tantos anos quanto me lembro - ela nunca está aqui e nem lá, mas sempre num eterno traslado. O resultado é seu precoce envelhecimento, o fim precoce de seu casamento, o afastamento precoce de seus filhos, e o tardio sonho de se tornar mulher de terra novamente... Sim, a viagem sem destino um dia cobra seu preço.
De mim, não sei exatamente quando ela cobrou, mas sei desde quando estou pagando. Aprender a vencer o medo, o orgulho... Aprender a entender o que se sente... Saber dizer "eu te amo" não é fácil como parece, mas um dia enfim se aprende - bem mais difícil que isso é saber dizer "não te amo mais". Isso sim, isso ainda não sei fazer e não sei quando vou aprender. Sei o motivo disso, mas não quero pensar, não quero ter de ser tão responsável todo o tempo. É só mais uma viagem, é só mais uma história, só mais uma noite passada sobre as nuvens. Deixo pra essas nuvens um cheiro que é do amor que nunca mais eu soube sentir.
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