São Paulo, sexta-feira, 12 de junho de 2009
Reitora não tem mais condições de continuar, diz Olgária Matos
DA REPORTAGEM LOCAL
Considera que "a reitora não tem mais condições políticas de se manter no cargo", mas teme que, de novo, "se derrube o tirano sem tocar nas razões da tirania". Abaixo, trechos da entrevista concedida ontem. (LC)
OLGÁRIA MATOS - É inadmissível que uma manifestação pacífica de estudantes e funcionários tenha de se enfrentar com a polícia dentro do campus universitário. Os manifestantes podiam até ter objetivos criticáveis -ou não-, mas, desde a Academia de Platão até as universidades modernas, esse recinto é o único preservado da violência policial porque é definido como o local que luta contra a violência, contra a barbárie. É o local em que se produz conhecimento, especulações, ciência. O local que faz parte do repertório da humanidade para se humanizar. Então não é o lugar que comporte a ocupação policial contra uma manifestação de estudantes desarmados.
MATOS - É preciso garantir o direito de ir e vir de todos os que participam da vida da universidade, é certo. Agora, como se chegou a esse ponto? Parece-me que os canais de contato entre os estudantes e a reitoria ou entre os funcionários e a reitoria estão muito precarizados.
Os funcionários apresentaram uma pauta de reivindicações, o que é algo obviamente legítimo.
Cabe à outra parte discuti-la.
Debatê-la. Agora, quando as instituições universitárias não debatem e, em vez disso, optam por enfrentar um protesto pacífico, de pessoas desarmadas, com o emprego de força militar, é porque têm uma sensação muito grande de perseguição. Alguma coisa muito séria está acontecendo com uma universidade que se torna incapaz de debater ideias diferentes.
MATOS - Do ponto de vista global da instituição, politicamente, aconteceu uma espécie de vazio de poder. Quando se usa a violência, é porque se perdeu a autoridade. A universidade não é o lugar da força ou da violência. É o lugar da autoridade...
Agora, o jogo de forças entre os vários setores da universidade é que vai definir os próximos passos. Tenho certeza de que a atitude da reitora derivou de algum aconselhamento, provavelmente de professores mais conservadores, que a pressionaram a agir dessa maneira.
Porque ela não agiria assim sem se sentir respaldada. O que tudo indica é que a reitora não tem mais condições políticas de se manter. Na medida em que ela usou a violência, pela simples recusa ao debate, ficou comprometida a sua função institucional como intelectual.
O intelectual está lá para impedir o uso das armas. Ainda assim, eu me pergunto se -de novo, e porque é mais fácil- não se estaria derrubando o tirano, em vez das causas da tirania. Você pode substituir o reitor. E depois? É por isso que existe a luta, que não é de hoje, pela democratização das instâncias que elegem o reitor.
FOLHA - A PM deve sair da USP?
MATOS - Imediatamente. A polícia estar lá é quase uma provocação... Uma sociedade é tanto mais feliz, tanto mais democrática, quanto mais ela conseguir conviver com seus contraditores. Uma sociedade que só é capaz de conversar com o mesmo não é uma sociedade.
Agora, o jogo de forças entre os vários setores da universidade é que vai definir os próximos passos. Tenho certeza de que a atitude da reitora derivou de algum aconselhamento, provavelmente de professores mais conservadores, que a pressionaram a agir dessa maneira.
Porque ela não agiria assim sem se sentir respaldada. O que tudo indica é que a reitora não tem mais condições políticas de se manter. Na medida em que ela usou a violência, pela simples recusa ao debate, ficou comprometida a sua função institucional como intelectual.
O intelectual está lá para impedir o uso das armas. Ainda assim, eu me pergunto se -de novo, e porque é mais fácil- não se estaria derrubando o tirano, em vez das causas da tirania. Você pode substituir o reitor. E depois? É por isso que existe a luta, que não é de hoje, pela democratização das instâncias que elegem o reitor.
FOLHA - A PM deve sair da USP?
MATOS - Imediatamente. A polícia estar lá é quase uma provocação... Uma sociedade é tanto mais feliz, tanto mais democrática, quanto mais ela conseguir conviver com seus contraditores. Uma sociedade que só é capaz de conversar com o mesmo não é uma sociedade.
Folha de São Paulo, caderno Cotidiano
Concordo que o uso da policia foi errado, mas deve ser por não ser de humanas, mas não gosto desta mistificação e separação da universidade. De a colocar em um pedestal separado do resto da sociedade. Tenho a impressão que discursos como esses que distanciam ainda mais esses dois grupos acabam gerando mais tensão, pois impede a população que paga a conta de se identificar com a universidade e os seus problemas.
ResponderExcluirNão concordo com a definição pessoal dela da universidade, de que É o lugar para lutar contra a violência. Não que não concorde com o ideal, mas não acredito que essa seja a definição real da universidade. Muitas vezes a universidade até pode ser usada para fins violentos, ou a pesquisa de armas só sai da iniciativa privada? Ou argumentos estúpidos como usados pela "evolução social" não vêem tb de acadêmicos? Acho que é dever da sociedade como todo, e não uma parte dela que deve lutar (talvez utopicamente) contra o uso como um todo da violência. E a universidade vai ajudar ou não neste ideal dependendo dos seus quadros.
Eu sei que ela não falou isso, e que estou pondo palavras na boca dela, mas no fim fica parecendo que nas outras esferas da sociedade se pode usar a policia, só na universidade que não, que podemos colocar toque de recolher na favela mas que não podemos impedir um grupo de depredar o patrimônio do estado (que é bom sempre frisar que é patrimônio do povo) e impedir outros de irem ou vir.
Recapitulando, acho errado usar a nossa polícia pois sabemos que com ela dá merda, e não porque a universidade é uma entidade especial.
Olha, eu sou contra o tal poder de polícia usado da forma como está sendo no caso. Acho sim que a universidade deveria ter sua autonomia pra resolver esse tipo de conflito. Ela tem uma guarda universitária que deveria "segurar a onda", caso as coisas saíssem do controle. Enfim... O sentido de eu publicar a entrevista da Olgária era mais pra deixa publico também por aqui o repúdio dos professores à ação policial.
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