
Mas que noitezinha mais besta. Noite besta sim! Precisava parar de beber tanto vinho. Precisava parar de deixar o telefone ligado durante a noite. Precisava se livrar do cachorro de uma vez por todas. Precisava parar de ir pra cama com o leonino do bairro acima – essa tinha sido incrível, acabou rebaixando o amigo colorido a leonino do bairro acima, tamanha era a falta de afinidade que passeava livremente pelo caso. Da última vez em que acordaram juntos, ele pôs a mesa de café da manhã e encheu de açúcar o suco de laranja... Depois de tantos meses, nem atentou ao fato de ela dispensar o açúcar até no café e foi melar justo o suco – e ela jamais adoçaria nada sem perguntar se devia antes... É o tipo da falta de atenção que dava um tédio imenso.
Mas tédio por tédio, qualquer caso ultimamente entediava. Pensava em dinâmica de relacionamentos e se perguntava: seria que pra não haver tédio teria de estar sempre começando? Que pra sentir emoção pulsar, devia começar um caso novo a cada mês, mudar de emprego, mudar de casa, mudar de cidade? "Vai saber... Vai saber..."
Caminhava bem, já tinha percorrido os dois quilômetros que separavam sua casa do consultório do psicanalista – tinha resolvido fazer análise de tanto ouvir que Freud explicava... Mas quando se sentava no divã, sempre se entediava ainda mais e, ao fim de cada sessão, acendia outro cigarro e concluía estar se tornando a cada dia mais blasé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Vem com tudo!