Aventuras e idéias de Tato Constantino – crônica I
ELA NÃO SABE NADA DE JAZZ. Normal, hoje em dia pouca gente sabe. ELA NÃO SABE TANTO DE HISTÓRIA. É, isso já é um pouco mais grave, mas em se tratando de mulheres dessa idade, também é normal. O ÚNICO DIRETOR QUE ELA CONHECE É ALMODÓVAR. Meu-deus, aí complicou mesmo! Mas normal, vamo-que-vamo. ELA DETESTOU A VOZ DA NINA SIMONE!!! Puta-que-pariu!
Achou melhor parar por aí porque se fosse enumerar todos os desqualificativos da garota certamente ia passar o dia inteiro nisso e não seria um lista exaustiva nem assim. Seria bem mais fácil pensar no que ela tem de bom: comunicativa, alegre, extrovertida, moderna. Ela é tudo isso, olha só! Mas o Tato sempre coloca os defeito na frente e nem sabe dizer porque faz isso, quando vai ver, já definiu a pessoa pelo que ela tem de mais negativo. Chegou no bar só pensando nisso e tentando encontrar uma brechinha em sua alma pra fazer caber a que não-sabe-de jazz-nem-de-história-nem-de-cinema-arte.
Arrogante o Tato, vocês não acham? Pois ele se acha. Muitíssimo arrogante por sinal. Não que seja sem razão mas arrogância com razão ou sem razão incomoda, nos dois casos pela mesma razão. Ele sabe também que as pessoas costumam perceber essa arrogância toda, só não sabe como, mas sabe que percebem. Por coincidência, é o que está acontecendo justamente agora.
Apesar de todos os sorrisos, de todas as gentilezas, de todo o blábláblá gentil e venenoso que ele vai destilando pra lançar na moça minuto após minuto, tem algum tom de superioridade muito leve lá no cerne da palavra do nosso amigo. E ela sentiu. Certamente sentiu porque o comportamento permissivo que adotou em todos os outros encontros já não estava mais sendo adotado. Em bom português, meus amigos, a mulher lhe disse NÃO!
NÃO, NÃO e NÃO!
E pela rua afora vai o Tato bem sozinho. Vai engolindo em seco o veneno que tinha destilado com tanto cuidado, já que pensando bem não era sexo o que queria mas simplesmente o SIM. Mas não, mas NÃO. É claro que se eu disser que essa foi a primeira vez que os instintos de macho-dominante do Tato falharam, estaria mesmo faltando com a verdade - já tomou vários nãos e esse foi mais um. Costuma inclusive colecionar os nãos na memória da mente, já que os sins se inscrevem na memória da pele instantaneamente. E esse foi um NÃO digno de lembrança muito alegre.
Quanto à moça, certamente a veria num outro dia, quando o orgulho já tivesse lhe passado pela garganta (porque seria mais uma mentira dizer que o Tato é bem-resolvido a ponto passar por cima de um NÃO e sair ileso). É, seria assim então: esperaria o orgulho descer, telefonaria e iria vê-la em algum bar pra falar de qualquer assunto que ela soubesse falar.
Mas... enquanto o futuro não chega, quem chega em casa é o Tato orgulhoso e arrogante mas também muito bem temperado. Vai se deitar na banheira e tomar um chardonay e ouvir um Miles Davis e fumar um baseado e esquecer do dia todo. Normal. Amanhã sim, amanhã vai polir o NÃO pra guardar na coleção.
quinta-feira, 25 de janeiro de 2007
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