sábado, 27 de janeiro de 2007

Aventuras e idéias de Tato Constantino – crônica II


Tato esfregou os olhos e refez o enredo: eram dois casais. Era um filme que falava de relacionamentos modernos e apenas disso. Não tinha ação nem nada que não fossem os diálogos e isso acontecia por causa de um formato de texto que foi transposto do teatro para o cinema. Então era só conversa de gente que precisava urgentemente falar de relacionamento como se a própria vida dependesse disso. Como se dependesse... Dependesse... DE-PEN-DE-SSE... dependesse...

O Tato Constantino nunca apreciou a palavra dependência bem como todas as suas derivações e é por isso que sempre que se lembra dela começa a repeti-la e descontruí-la para ver se ela perde o sentido. É claro que dá certo mas também é claro que a palavra vazia se enche de sentido assim que se esquece dela. E no fim das contas – mas bem no fim mesmo – o Tato sabe perfeitamente o que é sentir que a vida depende de uma conversa. E está pensando nisso exatamente agora porque acabou de ver o tal filme.

Lembrou de que bem no início do seu relacionamento com a Meca, ela resolveu ignora-lo. Muito! De verdade!!! OPIMPICAMENTE, aliás!!! O Tato sabia que merecia isso porque ter abusado da sua paciência-sentimental mas não achava que ela teria coragem. Enfim, embora fosse previsível em demasia o fato era que o Tato foi pego de surpresa quando aconteceu. Sendo assim lhe restavam duas tentativas que vinham a ser conversar-sobre-o-relacionamento ou esquecer que ela existiu na sua vida.
Quase aceitou a segunda alternativa mas quase mesmo. Mas não, mas não. Porque pensava nela dançando jazz e pensava nela fritando bolinhos de arroz e pensava nela falando de Hegel e pensava nela escovando os dentes e pensava em todo o blábláblá que esvaziaria sua vida de sentido se desaparecesse... Do mesmo jeito que DEPENDÊNCIA se esvaziava de sentido pela presença excessiva. Era essa então a equação da fórmula mais importante de sua vida: conversar-sobre-o-relacionamento + “América-casa-comigo” = Tato + contente.

Foi assim.

Mas se Perto Demais lembrava isso, A Insustentável Leveza do Ser lembra aquilo... e aquele... e aquela... Nossa! Foram tantos os casos extra que se a Meca soubesse o Tato nunca mais conseguiria levantar a cabeça. Não por ter tido os casos mas por ela saber que ele não fez tudo o que pôde por esse casamento. Pra Meca seria um engano pesadíssimo mas ela o carregaria como a Tereza carregou. O Tato só não tem certeza de que conseguiria carregar os dois juntos, a Meca e sua carga. Ele até poderia se inspirar no Thomas mas não tem certeza se ele conseguiu carregar o peso todo; o caminhão rolou ribanceira abaixo antes que se pudesse saber... Talvez haja o mesmo com o Tato, talvez essa seja um conversar-sobre-o-relacionamento que seu orgulho jamais permita.

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