Aventuras e idéias de Tato Constantino – crônica IV
O Tato sempre que algum seu querido está para morrer, visita uma ou duas vezes para cumprir seu papel social de amigo mas não gosta; acha que as muitas visitas fazem parecer que o quase-morto tem mais valor assim que quando era bem-vivo. Quando da morte do moribundo o Tato tem de comparecer aos eventos fúnebres para cumprir seu papel social de amigo também vai mas também não gosta porque o ideal seria que o morto – e não os outros – soubesse do pesar mas morto não sabe de nada não senhor. O Tato quando recebe o sinto-muito dos prestigiadores de enterro que ele não conhece sempre pensa em dizer “SENTE NADA! Nem me conhece e nem conhece Fulano! Tá sentindo tanto por que?” E emendar um “PALHAÇO!!!” mas é claro que não fala nada disso e apenas agradece e se sente mal por isso.
O Tato às vezes pensa que existe no mundo muito mais coisas e situações de que não gosta do que de que gosta. Morte por exemplo é uma coisa... UMA COISA... uma coisa com que o Tato lida muito mal mesmo, uma coisa em que ele não consegue dar-um-jeito e é bom lembrar que ele é um virtuose em dar-um-jeito seja no que for, menos nisso. O Tato depois que vai aos perturbadores e sociais e imperativos e de-mal-gosto eventos fúnebres volta pra casa e junta tudo o que serve de lembrança do morto e gurda muito bem guardado a salvo de sua vista descuidada. Ele já não quer mais se recordar de morto nenhum e nem cultivar a saudade e nem constituir santuário e nem nada de nada. Porque morto não é amigo e não é gente e não é nada e é isso o que morto merece: NADA! O Tato não quer sentir nada pela pessoa porque acha que não se trata mais de uma pessoa e sim de um morto e mortos são fantasmas e só existem pra quem acredita neles.
Hoje é um dia de luto para o Tato Constantino que detesta cumprir seu papel social de amigo mas que no fundo bem que gostava de ser amigo.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
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Achei esquisito... Mas interessante.
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