domingo, 20 de janeiro de 2008

Chuva e mais chuva...


Quem vive em São Paulo há muito tempo acaba conhecendo algumas sutilezas da cidade. Esse é o caso do carinha que a gente tá vendo agora ali, redobrado na janela, a caneca fumegando numa mão e o cigarro na outra. Ele tá molhando um pouco os braços porque tá chovendo muito, tá chovendo rios e cântaros, tá parecendo que o céu se inclina de mágoa pelos pecados e crimes da terra. Mas nada! Nem pecado nem crime nem porra-nenhuma, só uma frente fria mesmo.

Mas se é só uma frente fria, por que a alma também refrigerada? Então, essa é uma das sutilezas de Sampa: aqui as tempestades fazem a alma congelar. Acaba se tornando um perigo colocar a cara pra fora de casa. Nessas horas, não tem Rita-Lee-no-MP3 que nos salve: a gente não pode se expor a perigo nenhum, não pode nem sair de casa.

Esse pensamento faz o nosso amiguinho da janela parecer cheio de síndrome de pânico... Mas é isso mesmo, talvez, em certo sentido. Ele se lembra de que um velhinho muito sábio lhe disse uma vez, que quando a gente adentra muito a selva e começa a sentir um certo desespero pela falta de referências de civilização, é o Pã que vem chegando junto... E o pânico é isso. Nessa chuva toda, algum tipo de Pã se apodera da gente quando se sai pra andar na rua. Esse Pã deve se chamar Melancolia, decerto, e cochicha no nosso ouvido pra a gente se jogar do vão do Masp (que dramático!).

Sabe lá... Tá tudo tão cinza, tá tudo bem frio... Chega a dar medo mesmo. E o cara acha que nada é mais bonito e nem mais triste que as incessantes lágrimas que se desprendem do céu pra se deslizarem pela reluzente superfície dos prédios e finalmente lavarem bastante as sarjetas da Avenida Paulista. Mas o cara pára de pensar nisso e trata de requentar o chá, que a essas horas já tinha esfriado.

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