terça-feira, 4 de março de 2008

Abracadabra!

Na madrugada passada, assisti O Grande Truque, do Christopher Nolan (título original The Prestige). Esse diretor também fez o Amnésia, filme que me impressionou muito bem tanto pela forma quanto pelo enredo. Outro filme dele bastante conhecido foi o Batman Begins, que também é bacaninha: foi a primeira vez em que eu vi um Batman que me convenceu; ali, ele trabalho com o Christian Bale e o Michael Caine. No Grande Truque, ele repete essa dupla, de que eu, particularmente, gosto bastante. Além disso, temos aí o Hugh Jackman (que não decepcionou), a beleza irretocável (como eufemismo pra “gostozíssima”) da Scarlett Johansson e a bizarria do David Bowie, elemento muito bem vindo no enredo. As fotografias são incríveis, a arte é de bom gosto, tudo muito bem casadinho.


Muita gente pode achar o enredo meio fantástico demais, especialmente por causa do final, que realmente surpreende de forma estranha (evidente que na vou contar). Mas tem boa explicação, não apenas para esse final como para tudo, absolutamente tudo que acontece. Trata-se de um modelo de literatura muito específico, uma certa coerência que se volta para um gênero, o do romance romântico – de deformação, para ser bem específica. Muitos elementos estão aí perfeitamente caracterizados:
Na forma, as cores e a luminosidade: tudo bastante sombrio, escuro. Um enredo que não se esclarece até que se chegue ao fim.

Na ambientação, a Europa (Inglaterra: Londres) quase na virada do século XIX para o XX.

No enredo, um acidente que gera uma rivalidade que se torna a força motriz da vida de dois indivíduos: duas subjetividades absolutas buscando auto-afirmação acima de qualquer coisa ou pessoa. Caráter que no início é íntegro e se vai conspurcando, se distorcendo, se deformando, até que se torna algo completamente distinto do que era no ponto inicial. A tecnologia/modernidade como elemento antagônico: criações do homem que lhe trazem a própria ruína. E, como não podia faltar, a figura do duplo, o sujeito que, ao se encontrar com outro de si, deve elimina-lo – porque, se a subjetividade é absoluta, logicamente só pode haver uma.

Quem leu a Estética do Hegel sabe bem do que eu tou falando. Quem não leu, pode puxar pela memória outras coisas muito românticas cujos elementos podem ser encontrados aí: O Conde de Monte Cristo, Frankenstein, O Morro dos Ventos Uivantes e coisa e tal.

Quando alguém for ver esse filme, não pode perder de vista esses pontos porque, fora deles, o sentido se esvaziaria bastante.

A propósito, por moderninha que eu seja, ADORO um bom romance romântico, especialmente os de deformação. A idéia subliminar desse tipo de história é sempre a degeneração das almas no mundo moderno. Reparem: não tem catarse.

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