p.o.s.u.t.o.p.i.a

Eu não gosto de elevador e nem de metrô e nem de avião. São coisas de inegável utilidade e que facilitam a vida absurdamente. Mas pra mim é assim, que nem a democracia: não é que essas coisas sejam boas em si, mas que nunca inventaram nada melhor, de forma que a gente vive bem com elas mesmo.

Nessa minha viagem de férias, teve tudo isso: elevador, metrô e avião. Delas, a que menos eu gosto é o avião. Não que me cause pânico a idéia de despencar daquela altura toda, não é isso. É que é complicado de embarcar, muito desconfortável e as janelas são pequenas.

O pior é isso mesmo: serem as janelas muito pequenas! Nem se comparam com as de um bom ônibus. Eu raramente durmo em viagens e enjôo com leituras então, me resta sempre contemplar paisagens. É legal, você fica vendo aquele pleorama deslizando do seu lado e o que está bem longe parece passar devagarinho e só o que está perto corre bastante. Eu gosto dessa não fixidez de imagens. Num avião, a paisagem é muito singular, especialmente se o céu estiver nebuloso. Meu retorno foi bem assim: muito nebulosidade em terra. Daí o avião foi subindo, subindo, deixando aquela escuridão em plenas quinze horas lá embaixo... Entrou num nevoeiro denso e sem fim... e então... Sim... então ele furou toda essa massa gasosa e cinzenta pra encontrar o sol. As nuvens eram branquinhas vistas de cima pra baixo e encobriam toda a terra. Uma planície de algodão até onde a vista podia alcançar. Havia ainda algumas nuvenzinhas bem diluídas mais acima, mas muito poucas. As grossas, as pesadas, elas haviam virado o chão do céu. Vez em quando a asa até dilacerava algumas delas, com a inclinação do metal.

E eu, que vinha até então pensando numas chatices afetivas, até me esqueci delas, tão absorvida que eu estava naquela paisagem sem horizontes...

Lá em cima era tudo muito bonito e acho que isso é só o que faz ser melhor um rolê de avião.