quarta-feira, 16 de julho de 2008

Diários Noturnos de Nathan

Ele está sempre reclamando que nossos horários não combinam, que assim é ruim pra nos encontrarmos, que nunca me pega onláine... Paciência, eu digo a ele, paciência. Sou um cara noturno mesmo, não consigo encarar a sociedade pulsando sob o sol. Ele consegue, ele e toda a gente. E então vem dizer que eu sou desajustado, ele e toda a gente.
Coisas nessa vida que a gente nem sempre pode entender. Tantas! Formigueiros, muitos deles, formigueiros gigantescos, todos agrupados, dos quais saem milhares e milhares de formigas operárias carregando coisas e se atrapalhando umas às outras, se chocando umas contra as outras, todas à sombra dos formigueiros monstruosos. Formigueiros de gente! Uma porrada de bancos e prédios comerciais de toda ordem, expelindo a rodo aquela gente apressada que se faz de muito elegante mas nem vale a papelada que consta na pasta que leva debaixo do braço ou a tira-colo. (E em geral não vale mesmo. Se um cara morre, a seguradora sempre dá um jeito de provar pra família do cretino que sua morte não vale mesmo a grana que ele pagava). É da Paulista em plenas duas horas da tarde que eu tou falando. E é por ali que circulam as boas pernas do meu amantezinho falastrão, solar e muito implicante com meus hábitos madrugueiros (me diga agora, quem é o desajustado?).
Amantezinho que a pouco se presta mas que causa muito, diga-se de passagem, já que desde que estive com ele entre lenços e lençóis, nunca mais a Lua foi vista por essas paragens. É ela sempre, ela quer me crucificar! Eu fico admirado, é fato: ela nos apresenta, ela diz que há algo em que poderíamos nos ajudar, que há alguma afinação no nosso tom e coisa a mais... E então eu percebo que a afinação se trata em verdade de uma trepadinha casual e sem maiores conseqüências. O que é bom, não pela trepada, por sexo nunca ser coisa de completo agrado meu, mas pela falta de conseqüências, isso sim sendo de grande agrado. E ela, a Lua, ai-ai a Lua... Agora ela vive de me estraçalhar. Ela gosta, gosta sim. E eu, por sadomasoquismo máximo, concedo, deixo que ela me chicoteie. Mas me deixa admirado sim. Quase um estratagema, não? Ela procura me dar meios pra acabar comigo. Mas que venha! Me cruza e me crucifica que é bom. Na beira da morte eu quase me sinto vivo. Na beira da morte, no breu da minha madrugada sem fim.

4 comentários:

  1. Eu queria saber de onde vem idéia pra um texto desse? Tava pensando em que?

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  2. Vix, Sr. Anonimo, de tanta fonte, nem eu sei. Qdo vejo já foi...
    É mais uma catarse, sabe? Quando o dia tá ruim, eu escrevo essas coisas e, enquanto tou sendo essas pessoas, tipo o Nathan, não penso que sou eu. É essa a função dos alteregos associados.

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  3. Gostei bastante desse texto. :)
    estou sumida mas arrumei um tempinho para te ler. :*

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  4. Bom que gostou, Ericka, sua opinião é sempre muito importante.
    Tá sumida mesmo, nem me diga!
    Bjos grandes!

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