Papéis...

Os papéis não tem mais o mesmo significado que tinham há tempos atrás - acho que nesse ponto, são como tudo na vida. Muito tempo atrás, um papel significava muito. Mas muito mesmo! Ele vinha substituir o fiozinho de barba, garantia máxima de que um acordo havia sido firmado. O tal fio era símbolo de masculinidade já adulta(a barba, né) e, portanto, honra: você é um cidadão firmando palavra a outro cidadão (ou seja, nem era uma mulherzinha e tampouco criança; sabia o que estava fazendo). Um pouco tendencioso esse negócio de barba, vocês não acham?

Pois é... Antigamente, papel era uma coisa muito cara: documentos de papel eram coisas importantíssimas. Com um único papel assinado, um cara tinha salvo-conduto pra rodar em qualquer lugar em guerra... Olha só... Mas não era pra qualquer um ter papel.

Com o "advento" do estado moderno, muita coisa bacana foi pensada. Uma delas foi que o Estado precisava ter, para cada uma das necessidades dos cidadãos, um setor que dela tratasse; o nome disso é burocracia. E eu acho que isso popularizou o papel enormemente. Hehehe!

O fato é que, hoje em dia, ô cidadão precisa de papel pra cada necessidade que tenha. Mas nunca é um único papel. Precisa estar pra lá de provado que você é você e tem autorização pra continuar sendo você. O fato é que quanto mais papeis são necessários pra se fazer o que quer que seja, menos valor eles têm porque são tantos que, ao fim das contas, um a mais um a menos... Só pra outros papéis os papais continuam tendo valor, o que é um problema, porque as pessoas, pra quem os papéis são um verdadeiro saco, perdem seus papéis e quando são cobradas por outros papéis, ou por agentes dos papéis (como eu, ficam desesperadas, confusas, embaraçadas e sem entender a necessidade de toda a papelada. E pra sua desgraça maior, sua vida pode depender de um único papelzinho carimbado.

Tenho um amigo que precisa fazer uma operação; faz dois anos que ele tenta e o procedimento é revogado: eles constatam cada vez a falta de um papel diferente. Todos os dias eu mando embora, sem resolver problema algum, pelo menos umas cinco pessoas, porque elas não estão devidamente papelizadas. Todos os dias eu tenho que registrar em papéis a entrada de todos os papéis do meu dia e enviar a papelada toda por malote pra outros receptores de papéis...

Dá raiva pensar que você não é nada sem papéis, mas os papéis são muita coisa, mesmo depois que você morre, ao mesmo tempo em que não são porra nenhuma nunca!