Devaneios sobre a afetividade dos gatos – I

Você vê um gato na rua e se sente fortemente atraído por seu charminho. Daí quer logo passar a mão... Então, você chega junto e prepara um abordagem fofinha, engraçada e risonha. O gato simplesmente te ignora, foge, e você fica o achando um antipático. Mas é que gatos não são cachorros e as pessoas nem sempre entendem isso.


Um gato, pra se deixar tocar por um estranho, precisa ser seduzido; o primeiro passo pra isso é conquistar sua confiança – não é sensato que qualquer um tenha acesso fácil ao seu corpo, especialmente se esse “qualquer um” tiver cinco vezes o seu tamanho. Pra fazer o gato se sentir mais confiante e se tornar menos arisco, você se abaixa, fica o mais próximo do chão que puder, pra que seu tamanho não seja fator de intimidação. Pode fixar seu olhar no gato, ele vai notar que você lhe dá atenção, mas não com intenções agressivas; grande parte dos gatos vai retribuir o olhar. Depois de alguns segundos, passe a mão no chão de forma que faça um ruído; o gato vai se interessar pelo som e reconhecer que ele vem de algo que produz movimentos suaves, numa altura em que ele pode se defender, caso esteja enganado quanto as suas intenções; provavelmente vai se aproximar da sua mão e a averiguar: vai olhar, cheirar... Então, você coloca um dedo na cabeça do gato e percebe sua reação. Se ele gostou do seu cheiro (acariciar um cachorro pode fazer com que seu cheiro seja ameaçador ao gatinho), vai permitir a carícia, que deve ser suave no princípio e um pouco mais firme depois. Se o carinho agradar, o gato vai esfregar o pescoço em você, sinal de que você faz parte do circulo do seu círculo de afeições.

Pode continuar a acariciar o quanto quiser e suas recompensas serão o ronronar, uma leve mordidinha carinhosa, um enrolar-se por suas pernas... A máxima demonstração de afeto felino é quando ele se deita no chão e mostra a barriguinha, ato de rendição, porque nessa posição, ele fica quase indefeso. Se o gato fizer isso, pode crer que ele adoraria ter ver muitas vezes.


Se você for pensar bem, essa é maneira de seduzir não se distancia muito da que se adota com um humano: você olha a pessoa em quem tem interesse e não pode logo de cara ir passando a mão nela... Precisa ser gentil, conquistar sua confianças, fazê-la sentir que você não é uma ameaça. Depois disso, torna-se muito mais fácil tocar a pessoa...


Conheço muita gente que não gosta de gato por considerá-lo um animal desconfiado, arredio, antipático e individualista. Bem, os seres humanos também são assim com estranhos, não são? Mas quando um humano se toma de carinho por outro, tudo isso deixa de acontecer... Com os gatos, o mesmo é valido. Acontece que um gato não se alegra com a idéia de ser escravo de alguém como um cachorrinho pode ser... No mais das vezes, os humanos também não.