sábado, 24 de janeiro de 2009

Rango... hum...


Eu já falei que gosto de arte, né? Sim, eu já, muitos tipos de arte. Deve ter aí um monte de filósofo ou cientista social que saiba definir arte como ninguém. Pessoalíssimamente, tenho um conceito de arte bem próprio, bem particular, de que nunca falei antes, mas que vou falar agora. Eu defino como arte uma coisa que, quando tange qualquer um dos meus sentidos (ou mais de um simultaneamente), me faz arrepiar, suspirar, sorrir ou chorar (ou mais de um simultaneamente). Nada mais, nada menos. Por isso é que eu leio Kafka com o mesmo tesão que Serpieri. Mas o caso aqui não é literatura, mas rango.

Sim, rango é certamente uma arte! Tem quem estude muito pra fazer um rango e cobrar fortunas por ele; fica aquela coisa: lindo de se ver, perfumado, saboroso, temperatura e textura inigualáveis, produzindo sons suaves no partir ou mastigar. A alta gastronomia é toda feita por coisas assim. E temos umas gastronomias mais baixas, mais caseiras, que também são pirantes em sua simplicidade. Se não arte, um bom artesanato.


Foi o caso do rango de hoje. Tava friozinho, me inspirei pra uma polenta. Abri a garrafa de cabernet e entrei num avental. Vamo-lá! Água pra ferver com azeite e sal. Depois, fubá... Vamos fervendo e mechendo, pra não empelotar. Nesse meio tempo, tem bem ao lado uma panela cheia de lingüiça portuguesa picadinha, dando uma fritada pra soltar o pouco óleo que tem (evitem as calabresas pra esse tipo de coisa porque elas sim, elas soltam óleo pra caralho; usem paio, caso queiram). Depois meio crocantezinha a lingüiça, vamos jogando um copo de vinho seco (pode ser desses bem ruins) e deixando reduzir um tempinho. Daí, uma colherinha de canela, uma de pimenta do reino, uma de orégano, uma de sal. Depois, uma lata de tomate pelado. Vamos cortar os tomates e esquecer as sementes, espremer os tomates com a mão dentro da panela de molho. Aí, uma colher de acúcar, pra nãpo ficar azedinho, ácido, aquela coisa... Mais um tantim de sal, glutamato monossódico também ajuda. E deixa esse molhinho se fodendo em fogo baixo, até dar uma reduzidinha - mas sem secar. Lembrando sempre que o fubá vinha sendo mexido toda ora e também tava em fogo baixo.


Depois, a gente experimenta tudo, vê a acidez do molho, vê o cozimento do fubá. Entando bom, é servir junto com aquele cabernet que a gente já tava tomando enquanto preparava.


250 graminha de fuba e 1 paio ou lingüiça portuguesa dá pra duas pessoas comerem bem. E é um bom artesanato! Você não fica na cozinha por mais de 30 minutos! Hehehehe!

Quem estiver de regime, esuqece! Mas quem estiver afim de curtir um friozinho feito o de hoje, hum...

11 comentários:

  1. Lia, a-do-ro cozinhar, e um dos momentos mais íntimos, das melhores risadas, dos melhores papos e das conversas mais significativas aqui em casa são ao redor da cozinha. Compartilho contigo essa perspectiva da culinária como arte, como algo que se aprecia e nos gera sensações... adoro! Com um vinho, então... hummm, perfeito. Beijos! Ah, e adorei a receita!

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  2. mmmmmm. estou limpando a baba no teclado. você tem um temperinho que mais ninguém nesse mundo, meudeus. bom demais.

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  3. ah, também adorei a receitinha. eu gosto de comida forte, consistente, tipo essa daí. comidinha 'boba' e fraquinha não me apetece. eu só corrigiria uma coisa: usar vinho ruim. porque se você usa coisas ruins, eu acredito que no fianl, elas estarão lá. acho que ão precisa ser nada extraordinário, ma se escolher algo meio termo já está bom. o que acontece, às vezes, é que p dia não está bom pra cozinha. hoje, mesmo com todo o cuidado (comprei avelãs e limão siciliano - tão perfumado) joguei um bolo inteirinho fora. solou. e nem me deu vontade de comer ele solado, apesar de quê, não estava ruim. me deu raiva (isso não acontece faz uns seis anos) e joguei tudo fora. triste viu. só essa sua polentinha pra me alegrar... bjs

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  4. eu tmb acho q culinária seja arte, mas uma arte q eu só faço consumir... rs
    beijos

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  5. Adoro polenta... acho que o dia quer rolar bolinho de arroiz vai ter que ter polenta tbm!!!
    :)

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  6. Su: vinho é o elixir da longa felicidade, né? Também amo cozinhar e cozinho pra todo mundo que eu amo (e olha que eu amo gente pra cralho, hehehe). Meu, que legal q vc tb cozinha, o L. é deve ser muito feliz por isso: um dos tesões na vida de um casal é os dois ficarem na ozinha, improvisando pratos junto e entorando um vinhozinho!

    Lu: hehehehe! Obrigada, linda! Mó saudade! Bjos!!!

    Cris: rango forte é o que mais eu gosto! Mas também não dispenso pratos de verão com um toque bem leve: panquequinhas de ricota com castanha e manjericão podem ser leves e incríveis! Vou postar uma receitinha pra vc! <3 Ah, quanto ao vinho ruim, vix, fui de vinho ruim mesmo, viu? O mesmo que eu uso pro vinho quente quando bate a minha insônia, hehehe!

    Sentimental: ah, minha fofa, se vc não é daquelas que só devoram pitça e ambuguer, já tem um crédito e tanto!

    Moni: faço uma pra nóis tb, hehehehe!

    André: idem ao da Moni! Amo vcs todos!

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  7. Com certeza a culinária merece os status de arte muito mais que boa parte das esculturas contemporâneas. E a culinária da Lia então: campeã de todas as edições da bienal.

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  8. eu não, devoro de tudo um pouco... mas fazer q bom nada... rs
    beijos

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  9. hum...
    sério que isso é prato de 30 minutos? não sei pq me soou tão confuso :)

    culinária ainda é uma coisa meio esotérica pra mim, embora eu tenha me aventurado um pouco nela recentemente...

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  10. Thanatos: É, meu, meia hora e já pronto! É rapidim, sem segredo! Vix, muito fácil. Porcê que mora no sul, tá muito bom o prato. Vai pra cozinha com a namo um dia e vão fazendo juntos. Ou ela te ensina ou vcs aprendem juntinhos, tomando um vinho... Só cuidem pra, na empolgação do "juntinhos+vinho" não deixar o rango queimar, hehehe!

    Sentimental: isso significa que vc já pode apreciar o rango de algum gatão sedutoramente cozinheiro! :-)

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