sexta-feira, 5 de junho de 2009

brocha também é poesia

Um poeta de que gosto muito é o Manuel Bandeira. Pra falar a verdade, demorei um pouco pra entender a poesia dele: menos política, mais construção artística, ele escreve deforma artificiosa, fazendo com que tudo parecesse simples, feito cantiga de criança. Muita falta de pretensão pra um cara que fazia cálculos milimétricos.

 

Na realidade, comecei a me interessar de fato por essa poesia por causa de uma afinidade que eu tenho com o autor: a condição da impotência. Se o cara comia as mulheres ou não, eu não sei e nem me interesso muito por saber. Mas que ele era impotente, isso ela era. Não dá pra entender nada diferente em Pneumotórax: a vida que poderia ter sido e que não foi. Imagine que você se conteve ao máximo, sempre, temendo a morte que te foi anunciada aos 18 anos: você abandona o curso de arquitetura, não se casa, não bebe, não faz filho. E, ironia, imagine que, nessas, você foi morrer por volta dos 80. O Bandeira não queria saber de lirismo que não fosse libertação e, convenhamos, foi só aí mesmo que ele a encontro. De resto, preso em sua impotência.

 

Minha identificação com ele é essa: uma brocha menos física que metafísica.

 

Segue agora a transcrição de um poema que consta no livro O Mafuá do Malungo. Esse não é seu melhor livro e, entre os poemas que ali estão, também não escolhi o melhor. Mas é pouco conhecido e perfeito pra ilustrar o que eu disse.

 

Tema e voltas

 

Em brigas não tomo parte

E morros não subo não

Que se nunca tive enfarte,

Só tenho meio pulmão

 

No amor sim, tomo parte,

Mas não me esbaldo, isso não

Que se nunca tive enfarte,

Só tenho meio pulmão

 

De Eros a arriscada arte

Sempre usei com discrição

Que se nunca tive enfarte,

Só tenho meio pulmão

 

Bem que desejara amar-te

Sem medida nem razão

Mas qual! Se não tive enfarte,

Só tenho meio pulmão

4 comentários:

  1. Não tinha pensado nisso de o Bandeira ser ontológicamente inpotente... Hahahaha!

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  2. oi, cajuba. adorei o bog, morri de rir! beijos procê.

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  3. ops. 'blog', tá [eu tô meio tontinha, chegueido trabalho há pouco, hehehe]

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