quarta-feira, 12 de agosto de 2009

sobre sonhos

Antes de concluir este capítulo, fui à janela indagar da noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não continuam mais. A noite não me respondeu logo. Estava deliciosamente bela, os morros palejavam de luar e o espaço morria de silêncio. Como eu insistisse,declarou-me que os sonhos já não pertencem à sua jurisdição. Quando eles moravam na ilha que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu palácio, e donde os fazia sair com suas caras de vária feição, dar-me-ia explicações possíveis. Mas os tempos mudaram tudo.
Os sonhos antigos foram aposentados, e os modernos moram no cérebro da pessoa. Estes, ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha dos sonhos, como a dos amores, como todas as ilhas de todos os mares, são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa e dos Estados Unidos.


Machado de Assis

2 comentários:

  1. Não tem ninguém como Machado de Assis! O cara é realmente muito bom.

    Me lembrou uma piadinha sem graça que eu vi no Pânico na TV:
    Pergunta: "Quem Castrou Alves?"
    Resposta: "Machado de Assis!"
    "É, eu sei, é meio fraquinha, mas essa não é minha não, Eça é de Queirós!"

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  2. Hahahahahaha! Que muito bom!!!

    Hahahahahahaha!

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