quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Áfricas

 
E há, há sim, há demais! E cada vez que eu conheço alguma das particularidades de alguma dessas Áfricas, me apaixono mais um pouquinho. Das Áfricas, a com que mais tenho contado é a moçambicana de Mia Couto. Deixo uma impressão dele, a introdução de suas Estórias abensonhadas.
 
"Esta estórias foram escritas depois da guerra. Por incontáveis anos as armas tinham vertido luto no chão de Moçambique. Estes textos me surgiram entre as margens da mágoa e da esperança. Depois da guerra, pensava eu, restavam apenas cinzas, destroços sem íntimo. Tudo pesando, definitivo e sem reparo.
 
Hoje sei que não é verdade. Onde restou o homem, sobreviveu semente, sonho a engravidar o tempo. Esse sonho se ocultou no mais inacessível de nós, lá onde a violência não podia golpear, lá onde a barbárie não tinha acesso. Em todo este tempo, a terra guardou, inteiras, as suas vozes. Quando se lhes impôs o silêncio elas mudaram de mundo. No escuro permaneceram lunares.
 
Estas estórias falam desse território onde nos vamos refazendo e vamos molhando de esperança o resto da chuva, água abensonhada. Desse território onde todo homem é igual, assim: fingindo que está, sonhando que vai, inventando que volta"
 
 
(*Postagem tuiteira de @africanaescola)
 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Vem com tudo!