quarta-feira, 30 de setembro de 2009

frio

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Frio pra caralho, bem úmido, vento de cortar a pele. Era um saco se cortava a pele, mas era mais um saco ainda a quantidade insana de roupa sobreposta pra poder sair de casa. E guarda-chuva na bolsa: muito chato! Se usa, é ruim de carregar; se não usa, pesa na bolsa; se deixa em casa, chove (porque é sempre o que acontece quando se está de guarda-chuva) e aí... é caminhar molhado, triste e bem feio, feito filho de coruja. Essas nuvens frias, quando vêm pra São Paulo, não dissipam nunca mais. A ela, não lhe dava vontade de nada. Ia pensando agora que já estava sem sair havia duas semanas, porque o frio desanimava – devia ter puxado esse mau-humor-pra-frio do pai. Porra, estivera na frente da adega! Muita preguiça de comprar o cabernet chileno e agora não ia ter o que beber quando chegasse em casa. Aquele frio pedia uma tacinha! Pior era que o vinho estava numa promoção absurda. E era bom, era bom sim... Um motoboi vinha passando na esquina rente-rente... Fi-daputa! Eles sempre dão um jeito de barbarizar... Olha aí a merda! Só podia dar merda! Pagar motoboi por hora deveria ser proibido, isso era merda anunciada! O que acontecera agora não: já era merda manifesta! Lama na bota toda – ainda bem que era só a bota... Puta, meu! Mó promoção boa, tinha deixado passar... Cabecinha! Tava precisando cortar o banza... Mas então, dormiria como? Aí era ruim! Não, era melhor deixar o banza, mesmo correndo o risco de, por isso, esquecer o vinho... Mas que pensamentos eram aqueles? Que coisa mais junkie, quem ouvisse nem pensaria que era trabalhava, dava uma grana pra ajudar na criação do sobrinho, ia pegar o moleque na escola... Molequinho do caralho ele tava ficando! Esperto mais que todo na vida! Sim, criança era bacana sim... Poderia fazer um em algum dia de inspiração. Um pentelhinho pra cuidar, pra ficar junto todo dia, pra ensinar uns bagulhos... Sabia lá!, parecia muito bacana mesmo! Alguém pra amar antes mesmo de conhecer... Nossa, e a fechadura da porta do prédio emperrando de novo? Puta, prédio velho tinha lá umas desvantagens... Tudo bem, banheira era foda... Mas tinha umas compensações – nada vinha de graça na vida... Banheira lhe lembrava banho quente desejado naquela noite fria, que lhe lembrava de beber pra se aquecer, que lhe lembrava do cabernet em promoção, que lhe lembrava que não havia comprado nada... Puta vida, que vidinha mais ou menos... Dormiria sozinha aquela noite. Era bom sim, até que era bom. Dar uma desbaratinada, desligar o celular, aquelas coisas coisas... Dormiria vendo algum filme bobo. Refletindo densamente sobre sua circunstância existencial momentânea, chegou à inapelável conclusão de que não haver comprado o vinho naquela tarde havia sido um péssimo negócio... Frio da porra!



2 comentários:

  1. eu gosto de frio, não dos q cortam, mas gosto.
    bjs

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  2. O frio tem umas desvantagens, por exemplo, na hora de tirar a roupa prá entrar no banho, ou na hora de sentar no vaso gelaaaaaado !!!
    Mas é bom prá outras coisas: tomar vinho,comer aquela feijuca e dormir a tarde inteira, depois !!! Ah, delicia !!!

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