... e daí? Daí que desistiu de sair naquela noite. Pegou o telefone e inventou a pior desculpa que conseguiu (seguia uma filosofia própria que dizia que, se tiver de escolher um motivo pra deixar de fazer uma coisa, escolheria sempre o mais fútil). Do outro lado da linha, pensava, ela devia ter queimado de raiva, apesar de dizer “tudo bem”. O motivo real da desistência sua educação (sempre amalgamada à sua falta de sinceridade) não lhe permitiria dizer. Mas daqui de cima se vê perfeitamente o que houve: estava muito farto de bancar o personagem coadjuvante de uma novelinha de mau gosto.
Lembra-se que havia gostado dela logo que a conheceu. Gostou pelo motivo mais obvio: ela era bonitinha. Daí, aquela coisa: chamar pra sair uma vez, duas... Ela parecia gostar da abordagem, sorria, insinuava coisas... Enfim, depois de dois meses de “essa semana tá meio corrida, fica pra próxima”, ela finalmente aceitou o convite: cinema no meio da tarde. Tudo muito tranqüilo, que ele não era homem de avançar em mulher nenhuma – preferia se preservar sempre. Ela era cada vez mais atenciosa, receptiva... E chama pra uma pequena reunião em casa. Nossa, que delícia!, ela foi atender com um vestido fantástico e... ups! A sala estava cheia de homem! Mas que era aquilo, caralho?! Ah, é que eu só tenho amigo homem... “Mulher é difícil de lidar, sei lá... Não confio”. Um saco! A noite toda aquele papinho brega sobre sustentabilidade, um blábláblá sobre o governo do Chávez, sobre soja transgênica: uma colcha de retalhos de lugares comuns! Todas as expectativas da noite se frustraram e, dois ou três dias depois, soube que não eram apenas suas as expectativas. Naquela roda, outros três caras era amiguinhos apaixonados por ela, dois eram ex-namorados e dois, ex-rolinhos... Ninguém pegou ninguém. Tsc-tsc-tsc! O que será que ela estava pensando quando arquitetou uma reunião daquelas? A resposta era simples: estava evidentemente acreditando que a vida era um novelão da rede globo. Não bastava ter amigos, rir, se divertir e ir dormir... Não bastava conhecer pessoas, dizer NÃO quando fosse o caso ou SIM à queima roupa. Precisava de emoção, de suspense, de toda uma redezinha de intrigas... Precisava causar comoção, abalar estruturas... Ora, mas que coisa patética, não! Achava o que? Que na hora daquele encontro imenso de homens, em que ela era o pivô de todo e qualquer assunto, estava tocando uma musiquinha de tensão no fundo? Que tinha um mar de expectadores? Não, a vida não tinha trilhazinha sonora e ninguém choraria lágrimas de sangue por aquele episódio lamentável. Não eram personagens, apenas homens, bastante decepcionados com aquele comportamento umbigocêntrico. Jogo de sedução pode ser interessante, mas ali não havia mais criança... E era por isso que não teve pudor em desmarcar o encontro da noite, sob pretexto de levar a avó na aula de jiu-jitsu.
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