quinta-feira, 17 de junho de 2010

menos vaidade e mais prozac, por favor


O amigo tuiteiro mandou essa reportagem hoje e foi interessante, porque confirmou uma suspeita que eu tinha: ser bipolar “está na moda” – quase tanto quanto ser bissexual.

Tenho visto muita gente por aí se definindo como bipolar. A galera fala disso com um orgulho que é de estranhar, afinal, bipolar é um transtorno e não uma habilidade especial. Eu acho que a maior parte das pessoas deve ser mais tolerante que eu com esse tipo de coisa, porque toda vez que vejo alguém se intitulando bipolar, penso logo em dizer “pior pra você!” (tudo bem, é resposta de quem fode mal, mas dá muita vontade de falar).


Eu tenho quase certeza de que a maior parte dos que se dizem bipolares não tiveram esse diagnóstico de um profissional habilitado. Essas pessoas lêem artigos sobre o assunto, vêm a saber de casos de pessoas famosas com esse diagnóstico, vêem filmes coisa e tal. Daí lembram dos bafons que deram por aí, das TPMs de longa duração, das brigas desmotivadas com os amigos, das bebedeiras e trepações desenfreadas e já vão logo pensando: “ah, é isso então. Eu sou bipolar”.

Pronto, resolveu: agora o cara tem uma desculpa maravilhosa pra não respeitar as pessoas que te amam e causar comoção nacional. Não é culpa dele, ele não pode se conter, porque é bipolar! Mas que maravilha, né? Pode fazer feito o escorpiãozinho da fábula, ferroar quem quiser e dizer que é da sua natureza!

Bem, eu sou filha de uma mulher que é bipolar de verdade e sofri as conseqüências disso durante mais de 20 anos. Não nego que minha mãe me deu coisas muito belas pra lembrar, mas a maior parte do tempo, os únicos sentimentos que me pegavam eram o medo e a vergonha. Apanhei muito, fui exposta a todo tipo de humilhação, passei anos preocupada, desde bem criancinha. Tinha períodos em que minha mãe estava bem, mas nunca se sabia quando sua paixão viraria uma obsessão explosiva, quando ela se viciaria em remédios, quando ela seria linha dura, quando ela seria libertária. Coisas assim: mamãe não tinha o menor pudor pra falar sobre sexo e sua sexualidade, mas não nos permitia falar no assunto e nem ter namorado. Junto dela, coisas pequenas se tornavam problemas incontornáveis. Só me senti livre e autônoma quando saí da casa dela, já com 18 anos, mas mesmo assim, demorei pra descobrir quem eu era. Minha mãe se recusa a fazer o tratamento que lhe cabe e esporadicamente tenho que sair de São Paulo às pressas e ir vê-la, pois ela teve mais uma de suas desagradáveis (e incontáveis) crises. E as loucuras não se resumem ao seu relacionamento comigo e minha irmã. Ela quase não tem amigos e os casos amorosos que têm são permeados por essa insanidade, chegando ás vezes a violência doméstica. Ela é de fato muito talentosa (escreve, toca, pinta...), mas vai certamente terminar a vida muito sozinha.

Ser bipolar definitivamente não é legal, não é cool, não é descolado. Então, se você acha que é, procure ajuda, tenha um diagnóstico respeitável e principalmente se trate. Não fazê-lo afastará, com o tempo, muitas pessoas que você ama, o que te tornará muito infeliz. E ser infeliz não te faz especial; te faz apenas mais infeliz ainda.

6 comentários:

  1. se as pessoas soubessem o q realmente é ser bipolar jamais pegariam pra si esse karma.

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  2. bela descrição. Eu nunca consegui conviver com bipolares...chega um momentlo em que vc simplesmente desiste.

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  3. Sou bipolar (azar meu), tenho um dignóstico, me trato e posso dizer que não há nenhum glamour nisso. Sei todo sofrimento que já enfrentei e que meus familiares enfrentaram. Sinto até raiva de pensar que alguém use esse recurso, se dizer bipolar, para chamar a atenção dos outros. Entendo tudo que vc disse, sei que é difícil conviver com um bipolar. Estou sob controle faz bastante tempo, e minhas crises são muito menos intensas e duram muito menos hoje em dia. Minha qualidade de vida, assim como a de meus familiares melhorou muito. Mas conheço muitos bipolares que se recusam a tomar a medicação e as consequências são devastadoras para todos os envolvidos. A culpa por ser como sou era um dos piores tormentos emocionais que eu vivia. Endosso, com conhecimento de causa, seu conselho de que as pessoas que supeitam ser bipolares, procurem ajuda, diagnóstico e tratamento, que deverá ser pra sempre e contínuo. Mas vale a pena.

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  4. Ricardo: Sim, é realmente muito difícil!

    Lua: Vc tem uma atitude bacana, responsável, tem consciência e faz o que deve ser feito. Seria legal se as pessoas agissem como vc!

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  5. bacana querida,infelizmente, essas mariazinhas uó acham lindo dizerem que sào bipolar e nós sabemos que esse transtorno é pesado, um fardo para o portador e para os que estào em volta. um beijo.

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