segunda-feira, 7 de abril de 2008

Gostos e estilos

“Não seria necessário demonstrar que a cultura adquirida ou que essa forma particular de competência a que chamamos “gosto” é um produto da educação ou que nada é mais banal do que a procura da originalidade se um conjunto de mecanismos sociais não viesse dissimular essas verdades primeiras que a ciência deve restabelecer, determinando as condições e funções de sua dissimulação. Assim, a ideologia do gosto natural, que repousa na negação de todas essas evidências, obtém sua aparência e eficácia daquilo que, como todas as estratégias ideológicas que se engendram na luta de classes cotidiana, ela naturaliza as diferenças reais, convertendo em diferenças de natureza aquelas derivadas do modo de aquisição de cultura.” ( P. Bourdieu)


Esse texto se chama “Distância respeitosa e familiaridade”. O Bourdieu, no caso, está se referindo à arte: segundo uma pesquisa dele, gente que tem capital cultural adquirido (classes mais favorecidas) trata grandes obras de arte com certa familiaridade, em contraposição à reverência dos que não têm capital cultural - não têm contato com a arte devido a necessidades objetivas, mas têm todo um respeito por ela (modo mais grosso de explicar, impossível). Mas esse não é bem o meu ponto.


O trecho que eu transcrevi acima está lá porque vem refinar uma intuição que eu tinha, mas que nunca soube explicar muito bem. Eu achava que a gente não escolhe nada, tem apenas uma ilusão de escolha... Achava que a gente é determinado, meio que “adestrado” a gostar das coisas. O Bourdieu veio me dizer que é mais ou menos por aí mesmo: a gente toma por gosto ou inclinação natural o nosso estilo de vida, mas não tem nada de natural nisso. É o processo de socialização que nos determina os gostos; necessidades e condições objetivas são interiorizadas de maneira a se tornarem subjetivas e fica parecendo “da natureza” do indivíduo inclinações que são, na verdade elementos que a escola e família e outros círculos sociais ofereceram.


7 comentários:

  1. Foucault também é muito bom pra dizer isso!
    O engraçado é que as pessoas ainda tem coragem de achar que elas são que são por apenas um talento delas, falam às vezes como se todo conhecimento nacesse delas, quando na verdade ela está se apropriando da fala de outros.
    A sociedade é um grande plágio de si! hahahahahahahaha... Eu gosto de pensar nisso!

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  2. Pois é... Eu acho que o que as pessoas mais têm é a arrogância de crer no livre arbítrio! Ai-meu-deus!!! Ops, deus não pq ele tb acredita nessa porra, hehehe!
    Mas então, o Bourdieu, se não me engano, leu bastante Foucault e Marx, atualizou algumas coisas e reviu outras. Tou curtindo esse cara!!!

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  3. putz, depois de estudar estruturalismo e com mestrado em pós- estruturalismo isso parece discussão ultrapassada. tipo, ok, todo o mundo já sabe q o estruturalismo foi um erro, próximo!... hahahahah

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  4. eu quero taanto que você me explique isso pessoalmete melhor, que marquei aqui na lista de assuntos :) logo mais

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  5. Vix... Q medo!
    Tou me sentindo uma iniciante! Mas td bem, eu até sou mesmo!
    Na verdade, esse post é minha pagação de pau pro Bourdieu, que eu fiquei lendo esses dias todos e que me encantou como fazia tempo que ninguém encantava. Gostei do cara e não quis perder a chance de falar dele aqui. Hehehehe!

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  6. pô, eu nunca tinha nem ouvido falar desse bourdieu. ele há de ter alguma relação com o est.
    e se o est. foi um erro, bem, o pós-est. taí atualíssimo e pra mim é o q mais explica o sujeito, a relação filogênese-ontogênese etc.

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  7. Olha, o cara na verdade é bem atual. Ele tem o que chama de teoria prática. Nesse texto que eu li, ele começa justamente descendo o pau no estruturalismo. Ele acha que tem uma interligação muito forte entre o objetivo (instituições) e o subjetivo (indivíduo) que não pode ser desconsiderada; uma coisa meio que "alimenta" a outra. Daí a coisa da teoria prática. Mas eu tou sendo a criatura mais grosseira do mundo!

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