Ah!, sim, considerava, as pessoas iam ficando velhas, iam se aburguesando, iam entendendo melhor o peleguismo... Iam sim, ordem natural da vida.
Natural não, cultural, diria dignamente o velho pai, citando esse e aquele e mais o outro (e morreu podre e lentamente numa cama de hospital público, veja bem...).
Mas que diferença fazia, não era verdade? Com uma hipoteca, um cartão estourado e um holerite risível, isso não fazia diferença nenhuma.
Lembrava-se de que costumava trabalhar a linguagem eximiamente e que tinha uma predileção larga por abstrações. Mas foi ficando velha e se tornando pragmática (além de pequeno-burguesa e talvez um pouco pelega): agora se preocupava só com que todos a entendessem, nem questionava mais a legitimidade ou a possibilidade da comunicação.
E era curioso que esse tipo de coisa se refletisse mesmo na atitude sexual. Assim: teve o tempo em que era a amante cheia de fantasias, que fazia metáforas belíssimas a partir de um bafo, que lia mão e se desmanchava em sorrisos, mesmo quando o sexo era ruim.
Agora não, agora não: conversava, expunha alguns pontos de vista, ouvia outros, evitava discordâncias excessivas pra não perder a trepada. Daí, também evitava langerrís e camisolas, preferindo estar nua logo de uma vez. E não dormia na casa de ninguém caso pressentisse que não haveria sexo. Se pensava em instrumentalização? Claro que sim, mas normal, coisa que todo mundo fazia com todo mundo.
Coisa engraçada: ia passando pelos trinta, ia se aburguesando, deixando de se preocupar em ser instrumento ou instrumentalizar alguém... Ia desistindo de espiritualidades, de políticas, do grande-amor-da-vida... Até um pouco irônica, por dentro muito cáustica. Deveras um tanto blasé.
Natural não, cultural, diria dignamente o velho pai, citando esse e aquele e mais o outro (e morreu podre e lentamente numa cama de hospital público, veja bem...).
Mas que diferença fazia, não era verdade? Com uma hipoteca, um cartão estourado e um holerite risível, isso não fazia diferença nenhuma.
Lembrava-se de que costumava trabalhar a linguagem eximiamente e que tinha uma predileção larga por abstrações. Mas foi ficando velha e se tornando pragmática (além de pequeno-burguesa e talvez um pouco pelega): agora se preocupava só com que todos a entendessem, nem questionava mais a legitimidade ou a possibilidade da comunicação.
E era curioso que esse tipo de coisa se refletisse mesmo na atitude sexual. Assim: teve o tempo em que era a amante cheia de fantasias, que fazia metáforas belíssimas a partir de um bafo, que lia mão e se desmanchava em sorrisos, mesmo quando o sexo era ruim.
Agora não, agora não: conversava, expunha alguns pontos de vista, ouvia outros, evitava discordâncias excessivas pra não perder a trepada. Daí, também evitava langerrís e camisolas, preferindo estar nua logo de uma vez. E não dormia na casa de ninguém caso pressentisse que não haveria sexo. Se pensava em instrumentalização? Claro que sim, mas normal, coisa que todo mundo fazia com todo mundo.
Coisa engraçada: ia passando pelos trinta, ia se aburguesando, deixando de se preocupar em ser instrumento ou instrumentalizar alguém... Ia desistindo de espiritualidades, de políticas, do grande-amor-da-vida... Até um pouco irônica, por dentro muito cáustica. Deveras um tanto blasé.
Eu gostei desse texto. comentarei mais pra ti.
ResponderExcluirsujeito
objeto
que nos tornemos
absurdos.
Que bom que gostou! Tou feliz por isso, pequena sumida.
ResponderExcluirBjos!!!
Interessante o comentário da Ericka! Que o mais normal possível, o mais padrão, seja absurdo... Acho que faz sentido sim.
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