É o poder que a beleza dela teve sobre mim.
Estava ela bem ali, diante do meu espelho, passando um batom vermelho, usando um perfume vermelho, roupa vermelha, cabelo vermelho... Olhos vermelhos e muito mais que todo o resto. Mas não havia lágrima nenhuma. Pode ser que tenha havido depois que ela saiu, na minha frente, nenhumazinha.
Mas assim mesmo eu me sentia incomodado. O silêncio dela fazia com que nossa última conversa ecoasse pelo ar... E não foi uma conversa que gostei de ter, embora a ensaiasse já havia um tempo. Foi algo como eu lhe pedindo que levasse suas coisas de volta pra sua casa, porque eu carecia de solitude. Questão de tédio existencial, eu acho (me acontece esporadicamente). Mas ela teve que me fazer a pergunta errada, uma cujo nascedouro só pode ser a embriaguez que sua beleza sempre lhe causou: “mas o que acontece? Você não me ama mais?”. Se não a amava mais? Se não a amava mais? Eu não queria responder àquela pergunta, justamente por saber o quanto seu orgulho se estilhaçaria... Nunca compreendi perfeitamente o tesão estranho que certas pessoas têm em quebrar o orgulho de outras, em derrubá-las de seus pedestais. Eu nunca gostei disso, pelo contrário. Não acho arrogância algo necessariamente ruim... Mas quando ela me fez aquela pergunta, agi de forma contrária ao de costume, por não ter pensado antes de falar. Respondi que não era o caso de ter deixado de amá-la porque nunca a havia amado de fato.
E foi aí que o silêncio se estabeleceu, ela se arrumando, se enfeitando, pra me dizer que ganharia a noite com seu charme, e eu o observando, tentado demonstrar falsamente uma devoção, alguma adoração que eu sei que a deixaria mais contente, pra amenizar a inconveniência da verdade... Mas ela não era estúpida, nunca o fôra. Assim mesmo contei com o contrário, esperei que ela achasse que eu a amava, mas não queria confessar... Contei com isso pra não me sentir tão mal – é terrível pra pessoas muito belas serem rejeitadas assim, a queima-roupa. Senti-me um cretino.
Achei que devia ter mentido, acho ainda. Ela saiu, deixou um vidro de perfume propositadamente, na esperança de eu lhe telefonar, suponho. E pensei em ligar diversas vezes, mas sempre em situações em que um telefone me estava inacessível. Acabou que não liguei... nunca.
Na noite passada ela esteve no restaurante em que costumo jantar. Linda, linda como sempre, com um cara também muito bonito ao lado dela. Senti certo alívio quando vi que ela não me acenou: isso me obrigava a ir até ela. Pois bem, era minha redenção: fui, cumprimentei-os, perguntei da vida, disse que sentia saudade. Sabe-se lá se ela acreditou. O fato foi que seus olhos tornaram a se avermelhar em demasia.
Não sei, mas acho devia deixar de estar com gente tão linda assim... Ao fim das contas, não sei lidar com gente assim... E talvez isso me incomode.
sexta-feira, 13 de março de 2009
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cara... adorei esse conto... realmente
ResponderExcluirpuxa, obrigada!!!
ResponderExcluirbjinhos, lindo!
Legal, gostei!!!
ResponderExcluirdepois que você me explicou, eu entendi. e gostei muito. bjs, querida.
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