quarta-feira, 16 de março de 2011

sobre mentiras que viram verdades


Uma vez o repetente me falou sobre um livro que ele havia lido (de cujo nome não me lembro), sobre um criminoso que, para escapar à justiça, se escondeu em mosteiro. Para que ninguém desconfiasse dele, fingiu ser virtuoso. Fingiu o tempo inteiro, para todo mundo. Daí, vivia da forma mais virtuosa possível. E assim, fingiu tanto e por tanto tempo que, ao fim das contas, tornou-se virtuoso de fato.

Coisas bem parecidas aconteceram comigo.

Sou uma pessoa dotada de um desejo imenso de fazer porra nenhuma. Não digo que não gosto de fazer nada: existe muitas coisas que gosto de fazer, como ler, cozinhar, ver filmes, ouvir música, beber, transar, conversar, escrever, dançar... Mas não fazer NADA sempre me pareceu mais agradável do que qualquer uma dessas coisas. Em poucas palavras, sou uma preguiçosa nata! Esse é meu pecado capital, a PREGUIÇA.

Mas um dia tive de estudar e logo em seguida, trabalhar. E já que tinha de fazer, fiz as duas coisas da melhor maneira possível. Conclui a faculdade com ótimas notas, consegui um cargo bom no trabalho. Mas trabalhos são assim: eles só aumentam, você nunca vai ficar mais “tranqüilo” do que estava – e isso eu não sabia. Mas aconteceu. Continuei trabalhando pesado, consegui outro emprego e, de professora a coordenadora, passei rapidinho. Os estudos terminaram, mas me enfiei em um curso de artes dramáticas de 4 anos... Acho que fingi ser uma trabalhadora por tanto tempo que acabei me tornando uma.

Foi assim com algumas outras coisas também: fingi que não tinha medo de nada; fingi que não gostava de pessoas fracas e de caráter manipulador; fingi que sabia perdoar, fingi saber o que era melhor pra mim. Foi tudo tão bem fingido e por tanto tempo que agora posso enfrentar qualquer situação, posso evitar qualquer pessoa que não me seja boa, posso ajudar todo mundo que me fodeu, posso ser extremamente feliz com as coisas que consegui. Minha analista dizia que eu tinha capacidade grande de pensar sobre todas as coisas e de realizar minhas conclusões. Alguns filósofos diriam que eu corrijo afetos com atos. Não sei, não sei. O que sei é que quase não preciso mais das mentiras que criei pra me tornar quem eu queria. Estou bem, meus picos de auto-estima andam cada vez mais freqüentes e tenho me aborrecido quase nada com coisas pequenas. Creio que encontrei meu caminho.

5 comentários:

  1. que bom! uma alegria para nós que partilhamos uns passos com você na sua estrada!

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  2. Sempre compartilharão, amigos! Sempre!

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  3. Compratilho com você: "Sou uma pessoa dotada de um desejo imenso de fazer porra nenhuma"
    Inclusive, de tanto fingi me tornei muita coisa também! O bom mesmo è quando fingir nos faz assim: bem mais fortes

    Beijos pra você!

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  4. Sim, Keyla, tudo que nos faz fortes é bom...

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