quinta-feira, 9 de junho de 2011

A gente passa a vida escutando que o amor é o sentimento mais importante que existe. De minha parte, ao 
menos, posso dizer que sim. É sempre o amor que deve mediar as relações: você faz muitas coisas dificílimas por amor, mata e morre por amor, perdoa as coisas mais absurdas por amor, fala o que não deve por amor... Também por amor se cria a ilusão de que é possível dividir tudo - cada cantinho da alma - com outra pessoa... 

Francamente... A cada dia que passa eu tenho uma impressão mais e mais forte de que as pessoas conferem ao amor uma potência que ele não tem - quase todo mundo supervaloriza o amor. 

E assim, nessa ordem de supervalorização, sempre que você toma uma atitude extremamente ferina, querendo ou sem querer, contra uma outra pessoa, pode pedir desculpa na maior cara-de-pau: “eu nunca quis te magoar... eu te amo!”. Pronto, evocou o amor e está salvo da represália que merecia... Mas não, a pessoa insiste na zanga e você apela de novo: “eu te amo muito, eu faria qualquer coisa por esse amor...”. Quem sou eu pra dizer que é mentira uma coisa assim, não é mesmo... Mas vamos e venhamos, quem faria qualquer coisa por amor, já fez e não precisaria ficar assim, se arreganhando, dizendo que faria... E outra: muito dificilmente se faz qualquer coisa só por amor... 

Eu acho que quem já foi casado e não é mais pode entender disso melhor: passa a perceber que pode jogar tudo no lixo, tudo o que foi construído em nome do amor, de um amor que ainda existe e é tão forte... Mas mesmo assim, mesmo com tanto amor, o dia-a-dia está um verdadeiro saco! E de repente, meias sujas em lugares indevidos da casa passam a ser menos perdoáveis que uma traição. Triste, mas acontece... 

Outra facezinha bem perversa dessa coisa de se supervalorizar o amor é que não se fala mais “te-amo”. Tem que acontecer alguma muito complexa pra surgir um “te-amo”. Explico: você está se mordendo de ciúmes? Solta um “te-amo” que a provocação pára! Está se sentindo jogado de lado: o “te-amo” resolve. Aprontou e não tem como justificar? “Te-amo” remenda tudo! Vira quase uma moeda, com valor de uso e troca. E o “eu te amo” simples, desintencionado, sem nenhuma data especial ou nenhuma conversa tensa que desague nele, esse já não existe mais... Tsc... 

Eu estou começando a acreditar que tirar o amor a instituição do amor  de sua bela torre de marfim é a única forma de ele recobrar a nobreza de Paulo apóstolo falava...

3 comentários:

  1. É que não é amor... Amor é outra coisa. Isso é paixão. Mas filosofaríamos horas a fio sobre isso. Ainda sim, existem 3 tipos de amor: o eros, o filia e o ágape. O primeiro é mais ligado a paixão, ao sexo. O segundo é ligado à amizade, às relações familiares. Paulo falava do terceiro, que é incondicional e abnegado. Esse último tipo de amor é que é difícil de encontrar. O amor de fato é coisa mais importante.

    Ninguém mata por amor, sim por paixão. Ninguém cobra o outro por algo que deixou de fazer por amor, isso são relações entre os seres humanos que se baseiam em "barganhas".

    Você até morre por amor, pois não deixaria de dar sua vida pela de milhões e arrumar um reator nuclear. Você não perdoa qualquer coisa para simplesmente se reconciliar (principalmente sexualmente) com alguém. Você vai perdoar porque sabe que ninguém é perfeito, nem você e que guardar ressentimento e esperar que os outros ajam como você é pura sandice. Fora que é complexo de superioridade incrível pensar assim.

    Enfim... não acho que as pessoas supervalorizam o amor. As pessoas supervalorizam outras coisas, mas como sempre, é melhor jogar no nome de algo nobre. Quantas mortes foram feita em nome de Deus? quantos perderam a vida em cruzadas? quantas mulheres jogadas em fogueiras? Matavam sempre por motivos mesquinhos, por poder, por prazer. Nunca por Deus mesmo.

    Agora as relações de força ganharam ainda mais força nos micro-cosmos. E o amor é o elemento nobre da vez para se justificar os nossos absurdos.

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  2. Eu concordaria com tudo isso... Mas a gente sabe que na prática, no dia-a-dia, a galera justifica tudo com um único termo: AMOR. Isso eu acho muito foda... Realmente, não é de amor que estão falando (e nem de paixão, se for ver bem), mas de orgulho, de posse, de ciúme... É um argumentozinho tirado da manga... É uma instituição discursiva deveras FDP... Pra mim, amor (seja erótico, amigo ou abnegado) vem de graça. Assim como as declarações sobre o mesmo deviam vir.

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  3. hehehehe... serumano ainda deve melhorar. hehehehehehe... eu espero.

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