sexta-feira, 18 de julho de 2008

Em brigas não tomo parte

Em morros, não subo não

Que se nunca tive infarte

Só tenho meio pulmão


Bandeira






Posicionamento ideológico é um fator presente na minha vida desde que eu sou criancinha. Não que eu tivesse um, evidente que eu não tinha. Mas sempre escutei muito falar-se de temas de grande importância pra humanidade, todos de viés claramente esquerdista. Minha mãe, que tinha sido bicho-grilo e que sempre foi gay sempre teve uma certa militância (por assim dizer, já que nunca foi de movimento nenhum) a favor da liberdade sexual e de expressão. Ela, tendo uma banda, chegou até mesmo a ter música censurada em festival e não foi em cana por ser menor de idade na época. Papai então, nem se fale! Papai foi punk, assinou ata de fundação do PT, do PSTU, sempre esteve envolvidinho com o povo do PCO.

Desde que sou pequena, sempre escutei falar-se muito mal de tudo quanto era regime autoritário (salvo, é claro, o de Cuba e da URSS). Mesmo esses minha mãe criticava (papai não), mas dizia que, apesar de serem ruins, ainda não haviam inventado nada melhor. Ainda quando criança, eu não entendia bem dessas coisas, mesmo apesar da enfiada de filmes-cabeça que Nezita nos punha goela abaixo. Mas na minha cabecinha maniqueísta, era assim: militares e banqueiros são maus, guerrilheiros e hippies são bons; Hitler é o demônio, Che e Cristo são quase irmãos.

Meu pais sempre acharam o cúmulo do absurdo que um ser humano fosse “analfabeto político”. Não gostavam de direitistas, mas preferiam isso a que não se entendesse nada sobre as grandes questões pertinentes à humanidade. E esse foi um valor que se fez muito forte na minha socialização, de forma que cresci sem nunca questioná-lo: não se pode fechar os olhos pra sociedade, ser um “idiota que perdeu o bonde da história”.

Aos dezessete ingressei numa faculdade em que o esquerdismo sempre passeou livremente, pra não dizer que orientou. Pra resumir, sempre estive rodeada de politização por todos os lados. E continuo sem questionar a importância disso – o poder dos discursos de mudar a sociedade e coisa e tal... Mas e eu? E eu?




Caramba, eu nada! Não sou militante de nada, não defendo ninguém, não batalho por quase nada além da cobertura da minha conta bancária. Eu assisto às aulas de que mais gosto, entendo toda aquela ideologia pós-marxista e se por vezes não concordo, sempre acho belo. Eu leio os blogues de alguns amigos e fico toda encantada com tanta preocupação pelo social. Eu trabalho em meu projeto de mestrado, vejo o desejo e a força dos escritores que leio e penso que talvez um dia escreva algo daquele tipo... Mas cara, tudo isso me entedia! Todas essas coisas que leio/ouço e admiro tanto, todas elas me caem assim: MAIS DO MESMO, MAIS DO MESMO, MAIS DO MESMO. Já nem tenho tanto tesão de comentar aulas e blogues porque me parece que o que vou dizer, já foi dito por mim mesma muitas mil vezes. Parece que estou sempre me repetindo e isso está me tornando um pouco cínica. Começo a ironizar coisas que merecem toda a consideração – os movimentos ou pensamento de esquerda, a saber. Só isso mesmo, tédio, tédio, tédio!

E me sinto mal quando estou presenciando discussões de tanta importância, porque nunca sei se estou de fato levando aquilo a sério, embora eu saiba que devo e devo muito. Sinto que meus sentimentos são muito menos legítimos que os de toda gente militante, de que tanto gosto e que tanto admiro. Só não me acho uma fraude porque estudo mesmo. Mas a verdade é a seguinte: é como se, por ter a Vênus de Milo em casa, eu ficasse extremamente enfastiada com sua inegável beleza.

6 comentários:

  1. ah, mas têm discursos e discursos de esquerda. e a maioria deles são toscos. lá na facul, que me desculpem alguns, mas tem um povo muito limitado militando pela esquerda. com esses melhor não falar nada mesmo...

    ResponderExcluir
  2. Sim, linda, com toda certeza. Esses eu já nem levo a sério. O problema é eu também não levar os bons. Todos me deixam bodeada. O problema sou eu.

    ResponderExcluir
  3. Esse negócio de militância política não me atrai nada. Nem de esquerda nem de direita. É um assunto sobre o qual me informo só por obrigação... Claro que tenho minhas opiniões, mas militância não.

    Sei lá, parece que em países pouco democráticos como o nosso, a política acaba tendo mais importância do que realmente merece. Pô, tem tanta coisa que vale mais a pena discutir.

    ResponderExcluir
  4. Ah, então, mas nem só a questão da política governamental, mas quelquer questão que tange os direitos da humanidade. Eu acho mesmo que essas coisas merecem respeito. O que eu não consigo é respeitar do fundo do coração. Sei lá, sabe? Direitos da mulher, direitos de negros, qualquer discurso da minoria oprimida pelo pensamento hegemônico... Tudo isso eu acho bacana, mas tudo isso me deixa de bode!
    Eu fico me sentindo a menos politicamente correta nesse sentido.

    ResponderExcluir
  5. Pois é... eu penso que há teoria de mais e prática de menos. Todos os discusos são belos, o fato é que mesmo que milita, milita discursivamente. Pois quem põe em prática mesmo, nós nem vemos aí falando em TV, rádio, plalestas, livros (sim, livros falam hahaha) etc.

    Penso parecido com você, é muito bonito tudo o que se fala. Mas a prática é o que falta e, talvez, por isso te deixe com tédio.

    ResponderExcluir
  6. Andrezinho, apesar de saber que a prática realmente está defasada com relação à teoria, ainda não sei se é isso, nem pensei nisso, na verdade... Vou pensar...

    ResponderExcluir

Vem com tudo!